Em uma década, mais que dobrou o número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais: de 203 mil em 2014 para 440 mil em 2024, segundo o Ministério da Previdência Social. Apesar das 44 horas semanais previstas pela CLT, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que 9,9% dos brasileiros trabalharam 49 horas ou mais por semana em 2024.

Segundo dados de 2016 da OIT e da Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço das doenças relacionadas ao trabalho estão ligadas ao excesso de horas. Naquele ano, 488 milhões de pessoas no mundo trabalhavam 55 horas ou mais por semana — o que foi associado a mais de 745 mil mortes por AVC e doenças cardíacas.

O que é excesso de trabalho?

De acordo com a Dra. Rosylane Rocha, diretora científica da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), mesmo jornadas dentro do limite da CLT podem ser prejudiciais. "O tempo de deslocamento e a ausência de pausas reais fazem com que o trabalhador dedique muito mais horas ao trabalho do que o registrado, afetando descanso, lazer, saúde e relações pessoais”, afirma.

As principais consequências à saúde

O excesso de trabalho afeta o corpo de duas formas principais:

  • Respostas fisiológicas ao estresse: aumento do cortisol, da glicemia e alterações no sistema imunológico, o que pode levar a hipertensão, cefaleia, insônia, problemas digestivos, depressão, infarto e AVC.
  • Hábitos prejudiciais: jornadas longas aumentam o risco de sedentarismo, alimentação ruim, tabagismo, álcool e privação de sono.

Efeitos no cérebro

Um estudo coreano publicado no periódico Occupational and Environmental Medicine revelou que trabalhar mais de 52 horas por semana pode afetar áreas cerebrais ligadas à regulação emocional. Exames de ressonância magnética mostraram alterações no giro frontal médio, ínsula e giro temporal superior — estruturas associadas à função executiva.

Trabalho de escritório também adoece

Mesmo quem trabalha sentado o dia todo corre riscos. Um estudo de 2018 com ressonância magnética mostrou que ficar muito tempo sentado pode provocar diminuição do lobo temporal medial, mesmo entre pessoas fisicamente ativas. O risco de morte cardiovascular aumenta em mais de 30% para quem a o expediente inteiro na cadeira.

O excesso de trabalho não é apenas uma questão de produtividade — é um problema sério de saúde pública.