O Corinthians vive uma de suas piores crises políticas da história. No último sábado (31), o Parque São Jorge, sede social do clube, foi palco de um entrevero envolvendo Augusto Melo, presidente afastado, que apresentou um documento destituindo Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho, e tentando se recolocar no poder. ada uma semana, o clima ainda é de ebulição, com Osmar Stábile, mandatário interino, promovendo mudanças na diretoria.
Augusto Melo contesta a validade da votação que aprovou seu impeachment no Conselho Deliberativo. Segundo ele, a decisão não deveria ser considerada legítima, uma vez que a Comissão de Ética havia afastado Romeu Tuma Jr. ainda no início de abril; entretanto, não houve notificação formal ao mesmo.
A destituição de Augusto ocorreu em meio a investigações sobre possíveis irregularidades no contrato de patrocínio do clube com a casa de apostas Vai de Bet, caso no qual ele foi indiciado pela Polícia Civil pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians, acompanha de perto essa transição, concedeu entrevista exclusiva ao Lance!.

Entrevista com Armando Mendonça
LANCE!: O senhor mencionou que a gestão de Augusto Melo criou uma "baderna" no clube. Como o senhor avalia a tentativa do ex-presidente de reassumir o comando do Corinthians após o processo de impeachment?
Armando Mendonça: Na verdade, a “baderna” se iniciou logo no início da gestão e teve o seu auge em dois momentos: o primeiro, quando Augusto Melo não renunciou ou pediu seu afastamento preservando a instituição, mesmo indiciado por furtar o Corinthians, em associação com seus comparsas; o segundo, pela tentativa de golpe orquestrada por ele (Augusto Melo) no dia 31.05.2025, dois dias que reputo como os mais tristes da história do Corinthians.
Um clube sendo presidido por uma pessoa indiciada por furtar a própria instituição e que ainda provocou a maior insegurança com a tentativa de golpe institucional. O Corinthians, pioneiro na luta pela democracia, não merecia ter sua imagem maculada por esses dois acontecimentos.
Augusto Melo desrespeitou nossa história, os sócios e milhares de torcedores. Pior, continua a desrespeitar quando vai à imprensa dizer inverdades enquanto mais escândalos são revelados pela autoridade policial.
LANCE!: Como o senhor responde às críticas de que o Conselho Deliberativo está sendo conduzido de forma parcial, especialmente diante das recentes decisões políticas no clube?
Armando Mendonça: Entendo que os conselheiros, em sua maioria, exercem seu papel de forma imparcial e balizados nas graves questões envolvendo o Augusto Melo, como, por exemplo, o seu indiciamento pela autoridade policial por associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado contra a nossa instituição.
Os conselheiros, e aí estendo para os sócios, não podem aceitar com naturalidade esse indiciamento. Eu pergunto: o Corinthians merece ter um presidente indiciado criminalmente por furtar a própria instituição que presidia?
Ainda, não vejo como questão política as recentes decisões tomadas pelos conselheiros. A reprovação das contas não foi um ato político dos conselheiros. Eles estavam baseados em pareceres exclusivamente técnicos do Conselho Fiscal e do Conselho de Orientação - CORI. Querer imputar a esses pareceres como decisões políticas é reiterar o desrespeito que o Augusto Melo teve com os órgãos fiscalizadores durante toda a sua gestão.
Entendo que, diante dos pareceres técnicos, votar pela aprovação das contas, assim como pelo não afastamento provisório do Augusto, seria um ato político visando interesses contrários aos da nossa instituição.
LANCE!: Na sua opinião, a instabilidade política do Corinthians tem prejudicado o desempenho do time de futebol? Quais medidas estão sendo tomadas para blindar o elenco dessas turbulências istrativas?
Armando Mendonça: Primeiro, precisamos deixar claro que a instabilidade política vem das reiteradas condutas do Augusto Melo que ataca os órgãos internos e insiste em presidir um clube que, de acordo com a polícia, foi por ele saqueado. Em vez de se afastar para evitar que o clube continue nas páginas policiais, ele insiste em causar o caos. E, evidente que os conselheiros, sócios e a torcida não podem mais permitir isso.
Sobre o departamento de futebol, embora o presidente tenha sido indiciado, vejo que os jogadores e comissão técnica, liderados pelo Fábio Soldado, estão 100% focados nas suas funções e compromissos. O time está treinando e tenho certeza que a cada dia melhorará o rendimento dentro de campo. Repito, são profissionais que diariamente estão dando o melhor.
Entretanto, como forma de blindar ainda mais o grupo, o Presidente Osmar Stabile proibiu a entrada de pessoas que não fazem parte do Departamento de Futebol no Centro de Treinamento.
LANCE!: O ex-presidente Augusto Melo afirmou ter trazido aproximadamente R$ 3 bilhões em acordos para o Corinthians. Qual foi a realidade financeira que a atual gestão encontrou ao assumir o clube?
Armando Mendonça: Quando fomos ver a situação financeira, que até então não nos era franqueada pelo Augusto Melo, não encontramos esses R$ 3 bilhões. Pelo contrário, encontramos um clube com o aumento considerável de suas despesas.
Recebemos um departamento financeiro sem controle das contas, sem as mínimas informações para entender o nosso fluxo de caixa.
Rapidamente, o presidente Osmar chamou pessoas que já conheciam a dinâmica do departamento, que de fato são experientes nas suas funções, para minimizar os problemas deixados pelo Augusto Melo e organizar nosso fluxo de caixa.