O PSDB quer casar, já escolheu a noiva e chamou a imprensa para avisar que todos os trâmites estão em andamento. Resta saber agora se o amor será correspondido. O Podemos, legenda escolhida para o matrimônio, chegou a divulgar uma nota, ainda em abril, informando que recebeu o pedido de casório “com entusiasmo”. Mas não voltou a falar do assunto. Políticos que acompanham o namoro desde o início dizem que os dois partidos seguem na fase de “ficantes”. Conversas de fato existem, mas o caminho definitivo até o altar pode ser mais longo do que parece.
A ausência de líderes da direção nacional do Podemos durante o anúncio do PSDB dizendo que autorizava o avanço das negociações para fusão, feito na última quinta-feira (5), seria, segundo essas pessoas, uma evidência de que as conversas ainda estariam no começo. “A nota veio depois. A orientação é não comentar o assunto e deixar valer o comunicado do partido. Mas a conversa não está tão tranquila como quiseram transmitir”, diz um desses articuladores.
O secretário nacional do PSDB, deputado federal Paulo Abi-Ackel (MG), negou problemas entre as legendas. Ele destaca que a decisão foi tomada durante convenção nacional da legenda, “um ato estritamente interno no qual somente filiados tucanos com direito a voto deliberam”. “O objetivo exclusivo foi autorizar a Executiva do PSDB a concluir a incorporação do Podemos. A presença de representantes de outro partido nessa fase poderia constranger a liberdade de escolha dos convencionais”, diz nota da legenda.
Enquanto o PSDB reuniu diversas lideranças nacionais para o anúncio, incluindo os deputados federais tucanos por Minas Gerais, Abi-Ackel e Aécio Neves, a nota do Podemos sobre o assunto segue apenas com a da presidente nacional da legenda, deputada federal Renata Abreu. Nada que provoque atritos, diz o secretário nacional do PSDB. “O diálogo entre PSDB e Podemos segue regular e positivo. Não há, portanto, qualquer conflito – somente o cumprimento rigoroso dos ritos legais que garantem transparência e legitimidade à união do centro democrático”.
Um dos entraves é que o PSDB vem de um “casamento mal-acabado” com o Cidadania. No Podemos, a avaliação é que enquanto os tucanos não derem um fim oficial ao “relacionamento”, será impossível começar uma nova relação. “Existe uma pendência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que inviabiliza a fusão, que é a questão da Cidadania ter pedido pra sair da federação com o PSDB. O Podemos não pode seguir adiante até que isso seja deliberado pela Justiça Eleitoral”, avalia uma fonte do partido.
A explicação é que o PSDB não poderia encaminhar a fusão com outra legenda enquanto a federação com o Cidadania existir formalmente. O caminho, neste caso, seria incorporar o Podemos, mas não haveria acordo sobre esta estratégia.
PSDB e Cidadania formalizaram uma federação em 2022, ainda para as eleições daquele ano. Mas desde o início, enfrentaram dificuldades em alinhar as prioridades. Em Minas Gerais, por exemplo, os tucanos teriam barrado uma aliança para ingressar na chapa de reeleição do governador Romeu Zema (Novo), com a indicação do jornalista Eduardo Costa, na época filiado ao Cidadania, para o cargo de vice-governador. A situação teria sido apenas a primeira de outras divergências entre as legendas que culminou com um pedido unilateral de separação apresentado pelo Cidadania, em março deste ano.
O fim precoce da federação PSDB-Cidadania, que deveria ocorrer em maio do ano próximo ano, teria sido uma das causas para que os tucanos acelerassem o processo de seleção de um novo par. A expectativa é que a legenda chegue com mais poder de atração às eleições de 2026 e possa conseguir parceiros para retomar a posição de protagonista da política nacional, tal como foi durante as décadas de 1990 e 2000.
Desde que o Cidadania pediu o divórcio, o PSDB perdeu quadros importantes, como o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do Rio Grande do Norte, Raquel Lyra, que migraram para o PSD, de Gilberto Kassab. A aliança com o Podemos daria força aos dois partidos e compensar as perdas recentes.