Em finanças existe a premissa de que o que pode levar uma pessoa a conquistar o bem-estar financeiro não é o que ela ganha, mas sim o que ela consegue poupar e investir de maneira racional. Nesse contexto, a educação financeira assume importância cada vez maior ao prover conhecimento para que as pessoas gerenciem de maneira adequada seus recursos financeiros, podendo proporcionar sua independência e êxito financeiros ao longo da vida.

A sociedade tem ado por transformações em diferentes aspectos, com destaque para mudanças tecnológicas com implicações diretas sobre os mercados e os serviços financeiros, que se tornaram, ao mesmo tempo, mais íveis e mais complexos. Mas, infelizmente, o nível de educação financeira não tem acompanhado esses avanços, o que compromete a assertividade das decisões e mantém alijada do mercado financeiro boa parte da população.

Inseridos nesse cenário, o planejamento e a tomada de decisões de longo prazo se fazem cada vez mais necessários, atuando a educação financeira de maneira determinante no processo de gestão das finanças pessoais. Poupar para ter uma vida pós-laboral tranquila e com qualidade de vida deveria fazer parte do cotidiano das pessoas, diante das constantes alterações nas regras da seguridade social e da redução gradual da capacidade do Estado de prover recursos para aposentadoria da população de maneira universalizada.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a educação financeira é processo pelo qual as pessoas melhoram sua compreensão sobre produtos, mercados e riscos financeiros, o qual pode beneficiar a todas as pessoas, independentemente do nível de renda. Quanto antes as pessoas forem educadas sobre questões financeiras, melhor para sua vida pessoal, profissional e para o mercado, na perspectiva de que poderiam aumentar sua competitividade e eficiência, contribuindo, assim, para o crescimento e desenvolvimento econômico do país.

Nesse cenário, o contato com a educação financeira desde os anos iniciais da educação infantil atua de forma a conscientizar a pessoa sobre questões financeiras básicas: formação das taxas de juros em investimentos e financiamentos, como lidar com o dinheiro de maneira eficiente, saber poupar e tomar decisões financeiras adequadas. A absorção desse conhecimento ainda jovem poderia levar a mudanças de hábitos e proporcionar decisões de consumo e de investimento cada vez mais conscientes ao longo da vida, evitando assim, por um lado, o consumo compulsivo e a contratação de dívidas desnecessárias, e, por outro, aumentando a capacidade de poupar, visando dispor de recursos financeiros para situações inesperadas e para a aposentadoria.

Em países desenvolvidos a educação financeira tem recebido atenção há algum tempo por parte de diferentes atores da sociedade. No Brasil, apesar dos importantes avanços em anos recentes, ainda estamos bem distantes de prover os conhecimentos financeiros para uma parcela significativa da população, principalmente a de baixa renda, que não tem o à educação de qualidade.

Trata-se de um tema que tem sido abordado de maneira incipiente, com ações dispersas de pesquisadores, instituições de ensino e do mercado financeiro, bem como de autoridades governamentais. Tramita no Congresso o Projeto de Lei (PL) 5.950/2023, que propõe, entre outras ações, a inclusão da educação financeira como tema transversal nos currículos da educação básica. Enfim, universalizar, no longo prazo, a educação financeira é um dos desafios da sociedade brasileira.

Marcos Antônio de Camargos
Doutor em istração e professor de finanças da Faculdade Ibmec-BH e da UFMG