Ampliar o debate sobre a adoção, envolvendo instituições e a sociedade. Esse foi um dos objetivos do “3º Seminário - Adoção: os vários lados dessa História”, realizado neste sábado (24 de maio) no Quality Hotel, na região da Pampulha. O evento antecede o Dia Nacional da Adoção e discutiu as diversas possibilidades do processo, que não se restringem a crianças pequenas, além de abordar a morosidade que ainda marca o sistema.

Promovido pelo Grupo de Apoio à Adoção em Belo Horizonte (GAABH), o seminário trouxe temas como os prazos, o desejo de adotar, como se preparar para o processo e a importância da formação continuada após a adoção. Também houve relatos de adolescentes acolhidos prestes a deixar o sistema por atingirem a maioridade. O GAABH foi criado em 2009 com a proposta de discutir, orientar e compartilhar informações sobre o tema.

O dia começou com a participação do juiz titular da 2ª Vara Cível da Infância e da Juventude, Marcelo Augusto Lucas Pereira. Ele falou sobre os prazos legais e os prazos reais, deu exemplos práticos e respondeu às dúvidas de pretendentes presentes no evento.

Para o magistrado, há vários fatores que contribuem para a lentidão da fila, e um deles ainda é o perfil buscado por quem deseja adotar. “Crianças com mais de oito anos têm uma chance muito remota de serem adotadas. A grande preferência do brasileiro ainda é por crianças até a primeira infância, ou seja, até os três anos de idade”, explicou em entrevista a O TEMPO.

A adoção tardia foi um dos temas mais discutidos durante o seminário. Para a assistente social e coordenadora do GAABH, Kênia Carvalho, é natural que as famílias tenham um perfil desejado. Mas, na convivência com os acolhidos, especialmente adolescentes, ela percebe que muitas dessas famílias talvez se surpreendessem se estivessem abertas a outras possibilidades.

“É importante que as pessoas se conheçam bem. O autoconhecimento é a principal chave. Mas que elas também conheçam as possibilidades e em a ampliar a consciência sobre os vínculos reais e afetivos. Isso é o que mais importa. Muitas vezes, é mais significativo do que criar uma criança desde bebezinha”, afirma.

Evento discute as diversas possibilidades do processo de adoção (Milena Geovana/O TEMPO)

A solidão da espera

Foi o autoconhecimento que levou Jamile Ribeiro Nepomuceno, 36, a perceber que queria ser mãe. “Sempre tive o sonho da maternidade, e nunca diferenciei a via biológica da via adotiva. A vida foi me colocando em situações que despertaram em mim esse desejo de maternar por meio da adoção”, conta.

Servidora pública e moradora de Montes Claros, Jamile está há cerca de três anos na fila. Deu entrada no processo como mãe solo, com o perfil de uma menina entre dois e sete anos, com possibilidade de vir acompanhada de um irmão ou irmã. Mas, pela certeza de que quer ser mãe, já considera mudar o perfil. “Pensei várias vezes em ampliar esse perfil, porque hoje eu já me sinto preparada”, destaca.

Mesmo com uma rede de apoio próxima, ela conta que a espera é marcada pela solidão e pela falta de diálogo. “É um processo solitário e angustiante. A gente não tem com quem conversar. As pessoas não querem saber muito, não é um assunto palatável para a sociedade. Pelo contrário, os comentários são quase sempre negativos. ‘Tem certeza? Isso vai trazer problemas pra sua vida’. Escuto muito isso. O preconceito com a adoção ainda é muito forte”, desabafa.

Por isso, ela acredita que grupos de apoio como o GAABH e encontros como o seminário fazem toda a diferença. “Eu tenho vontade de criar um grupo de apoio à adoção na minha cidade, justamente por causa dessa ausência. Pra que haja troca com outras famílias, outros casais e pessoas que estejam vivendo essa mesma espera, essa ansiedade, essa expectativa”, diz.