SÃO PAULO. A proibição de entrar com garrafas de água no estádio Nilton Santos, onde a cantora Taylor Swift se apresentou, foi alvo de críticas dos fãs, que chegaram a implorar à produção que distribuísse a bebida para o público para aliviar o calor, e de políticos. As altas temperaturas no Rio de Janeiro levaram à morte uma fã nesta sexta (17). Ana Clara Benevides, de 23 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu após ar mal com a sensação térmica de 60ºC no local. Ela estava na grade e desmaiou no início da apresentação, que reuniu 60 mil pessoas.

A prática de proibir a entrada de água é comum em shows no Brasil e em outros países, devido a questões de segurança ao artista e ao público geral. Diversos outros itens também não são permitidos..

Essa proibição de itens é regulada pelo Procon e está relacionada a uma questão de saúde e de segurança pública, afirma Mara Natacci, advogada especializada em entretenimento, que já atuou em festivais como Rock in Rio e Lollapalooza.

Risco de arremesso de garrafas no palco ou no público

Segundo a advogada, a garrafa de água é considerada perigosa porque pode ser arremessada em alguém. "Tudo o que é arremessável ou possa machucar, seja por motivo de briga, seja por qualquer tipo de perigo, é proibido pela secretaria de segurança pública", diz.

A lista de restrições a ainda por embalagens rígidas com tampa, utensílios de armazenagem, cadeiras ou bancos, capacetes, armas de fogo e armas brancas, objetos pontiagudos, objetos de vidro e bastão para tirar foto, entre outros.

O site da turnê da cantora trazia ainda outras proibições, como alimentos e recipientes de aerossol, incluindo protetor solar. Como um copo plástico de água lacrado não machuca, ele é liberado. Além disso, a proibição de garrafas evita com que o público entre com drogas no local. "O que já aconteceu no ado preconizou tudo isso" -ela lembra o caso de Carlinhos Brown, que sofreu uma "garrafada" durante uma apresentação no Rock in Rio em 2001.

Copo plástico é alternativa em outros festivais

Para contornar a situação, festivais como o Lollapalooza permitem entrar com água, mas apenas em copo plástico lacrado e com número limite. Já o Rock in Rio e o The Town permitem garrafas plásticas com água, mas sem tampas.

O Lollapalooza ainda ou a disponibilizar bebedouros com água gratuita e distribuição de squeezes, mesma medida tomada pelo Primavera Sound e pelo Rock in Rio no país. Apresentações em casas de show, porém, não costumam contar com bebedouros ou distribuição de água gratuita.

Falta de legislação específica sobre água em shows

"Infelizmente, não temos leis específicas para esses eventos. O que o poder público faz é regular conforme os acidentes que acontecem, aí surge uma norma nova, assim como uma que está sendo editada hoje", diz Natacci.

A norma a que se refere foi publicada neste sábado (18) pelo ministro da Justiça Flávio Dino. O documento determina que será permitida a entrada de garrafas de uso pessoal com água para consumo durante eventos do tipo e exige ainda que produção dos shows deve disponibilizar bebedouros ou distribuir copos de água sem qualquer custo adicional e com fácil o.

Além disso, bombeiros são obrigados, por lei, a distribuir água na barricada de shows em dias de calor. No segundo dia de show da Taylor Swift no Rio de Janeiro, o corpo de bombeiros jogava jatos de água no público que aguardava na fila, para amenizar o calor.

Água negociada a R$ 8 no Engenhão

No Engenhão, a água era comercializada por R$ 8 na sexta-feira. De acordo com pessoas no local, a organização da distribuição da bebida foi mal articulada.

Diante da morte de Ana Clara, a Time For Fun, produtora responsável por trazer a turnê ao país, permitiu a entrada nos shows seguintes com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, e ou a fornecer água gratuita nas filas e em todos os os e entradas ao estádio e no seu interior.

"Esclarecemos que a exigência dos itens serem lacrados segue recomendações de segurança. Também ressaltamos que a proibição de entrada de garrafas de água em estádios é uma exigência feita por órgãos públicos e que não realizamos a comercialização de bebidas e alimentos, sendo essa uma atribuição da istração do estádio", diz a produtora em comunicado à imprensa. (NATHALIA DURVAL/FOLHAPRESS)